TEMA: Esperança em meio à Adversidade
“Porque para mim o
viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fp 1:21)
INTRODUÇÃO
É possível ter esperança em meio à adversidade? Aquele que
tem fé em Cristo, sim; sejam quais forem as circunstâncias! A esperança de
Paulo na adversidade está latente quando ele comunica aos seus irmãos: “As
coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho” (Fp
1:12). Aqui, quem fala não é uma pessoa que se acampa em um escritório opulento
e distante do sofrimento alheio, mas um ser humano que redige uma mensagem de
esperança em um lugar contrário a qualquer esperança: a prisão. O apóstolo
Paulo estava preso em Roma, sob algemas, com esperança de ser absolvido em seu
julgamento por meio das orações da igreja (Fp 1:19; Fm 22). Paulo era um homem
que nutria a sua alma de esperança (Fp 2:24). Ele se considerava prisioneiro de
Cristo, e não de César. Não eram os homens maus que estavam no controle da sua
vida, mas a providência divina.
I. ADVERSIDADE: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A PROCLAMAÇÃO DO
EVANGELHO
1. Paulo na prisão. Quando Paulo foi preso em Jerusalém, ao
testemunhar ousadamente perante o sinédrio judaico, o próprio Deus apareceu a
ele numa visão e lhe disse: “… Paulo, tem ânimo! Porque, como de mim
testificaste em Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma” (At
23:11). Contudo, sua viagem para Roma foi tumultuada e cheia de percalços.
Paulo chegou a Roma como um prisioneiro depois de enfrentar
um terrível naufrágio. Durante dois anos, ficou detido numa prisão domiciliar
em Roma (At 28:30), na companhia de um soldado da guarda pretoriana, que o
guardava (At 28:16; Fp 1:13). Nessa prisão domiciliar, numa casa alugada por
ele mesmo, tinha liberdade para receber as pessoas e instruí-las (At 28:23).
Nesse tempo, pregou o reino de Deus com toda a intrepidez, e sem nenhum
impedimento ensinava as coisas referentes ao Senhor Jesus Cristo (At 28:31).
Paulo jamais se considerou prisioneiro do imperador romano,
mas prisioneiro de Cristo. Jamais murmurou atribuindo a Satanás suas algemas.
Embora Satanás tenha intentado contra ele, nunca Paulo o considerou como o
agente de seus sofrimentos. Quem estava no comando de sua agenda não era o
inimigo, mas Deus. Paulo não acreditava em casualidade nem em determinismo. Ele
sabia que a mão da Providência o guiava até mesmo na prisão. Ele foi
perseguido, odiado, caluniado, açoitado, enclausurado, mas jamais viu os seus
adversários como agentes autônomos nessa empreitada. Ele sempre olhou para os
acontecimentos na perspectiva da soberania e do propósito de Deus. Considerava-se
embaixador em cadeias. Estava preso, mas a Palavra de Deus estava livre.
Paulo considerava o evangelho mais importante que o
evangelista; a obra, mais importante que o obreiro. A divulgação do evangelho é
mais importante que o mensageiro. Por isso, na prisão Paulo foca sua atenção na
proclamação do evangelho, e não em si mesmo. Não importa se o obreiro vive ou
morre, desde que o evangelho seja anunciado (Fp 1:20). (1)
2. Uma porta se abre através da adversidade. As cadeias de
Paulo abriram portas para o evangelho. Deus é o Senhor da obra e também dos
obreiros. Ele abre portas para a pregação e usa os acontecimentos que atingem
os obreiros como instrumentos para ampliar os horizontes da evangelização.
Porque Paulo estava preso, ele pôde alcançar grupos que jamais alcançaria em
liberdade. Os homens podem prender você, mas não o evangelho. Paulo não é um
malfeitor social, nem um preso político, mas um embaixador de Cristo em
cadeias. Sua prisão é uma tribuna. Suas algemas são megafones de Deus.
A quem Paulo alcançou por causa de sua prisão em Roma?
a) A guarda pretoriana (Fp 1:13). A guarda pretoriana era a
guarda de elite situada no palácio do imperador. Era composta de 8 a 10 mil
soldados romanos. Dia e noite, durante dois anos, Paulo era preso a um soldado
dessa guarda por uma algema. Visto que cada soldado cumpria um turno de seis
horas, a prisão de Paulo abriu caminho para a pregação do evangelho no
regimento mais seleto do exército romano, a guarda imperial. Paulo, no mínimo,
podia pregar para quatro homens todos os dias. Toda a guarda pretoriana sabia a
razão pela qual Paulo estava preso, e muitos desses soldados foram alcançados
pelo evangelho (Fp 4:22). Assim, as cadeias de Paulo removeram as barreiras e
deram a ele a oportunidade de evangelizar os mais altos escalões do exército
romano.
b) Todos os demais membros do palácio (Fp 1:13). Além dos
soldados, Paulo também evangelizou as demais pessoas que viviam no pretório.
Por causa de sua prisão, Paulo esteve em contato com outro grupo de pessoas: os
oficiais do tribunal do imperador César. O apóstolo encontrava-se em Roma como
prisioneiro do Estado, e seu caso era importante. Além das pessoas que viviam
no pretório, Paulo recebia na prisão domiciliar muitas pessoas, e a todas elas
ele influenciou e a muitas delas ganhou para Jesus por meio do evangelho (At
28:23-31). Como foi dito acima, Paulo estava preso, mas a Palavra de Deus
estava livre.
II. O TESTEMUNHO DE PAULO NA ADVERSIDADE (Fp 1:12,13)
1. O poder do Evangelho. De modo objetivo, Paulo quer que os
irmãos saibam que as coisas que lhe aconteceram, a saber, seu julgamento e a
sentença de prisão, contribuíram para o progresso do evangelho, em vez de ser
um impedimento, como era de esperar. Essa é mais uma ilustração maravilhosa de
como Deus sabe desfazer os planos malignos de demônios e homens, obter vitória
onde parecia haver apenas tragédia e conquistar uma coroa, em vez de ficar com
as cinzas.
Jamais seremos pregadores convincentes do evangelho se nós
mesmos não estivermos convicção de que o evangelho é o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê (Rm 1:16). Se o evangelho é poder de Deus, é
mister que experimentemos deste poder, que sintamos e sejamos instrumentos
deste poder, sem o que não poderemos ter esta convicção. Paulo tinha esta
convicção e, por isso, podia diferenciar-se dos grandes e eloquentes oradores
de seu tempo, pois a sua pregação não era mera retórica, mas demonstração do
poder de Deus (1Co 2:4-6).
2. A preocupação dos filipenses com Paulo. ”E quero, irmãos,
que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito
do evangelho” (Fp 1:12). Este versículo indicia que os filipenses estavam
preocupados com o bem-estar de Paulo. Eles não entendiam que aquela prisão era
para a glória de Deus. Eles conjecturavam que sua prisão tivesse retardado a
propagação do evangelho. Paulo, porém, via os acontecimentos como um plano
sábio de Deus para o cumprimento de um propósito glorioso, ou seja, o progresso
do evangelho. Paulo havia estado na primeira prisão em Roma por dois anos.
Paulo pode até ter questionado a razão que o Senhor Deus tinha para um período
de aprisionamento tão longo, porque este fato efetivamente o impediu de
realizar mais viagens e pregações. Mas Paulo veio a entender, e queria que os filipenses
soubessem sem dúvida alguma, que as coisas que aconteceram tinham na verdade,
contribuído para o maior progresso do evangelho. Foi durante esta primeira
prisão que o Espirito Santo, por instrumentalidade do apóstolo, nos presenteou
as Epístolas aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses e a Filemom. Cartas
que tem abençoado e edificado espiritualmente inumeráveis pessoas ao longo da
peregrinação da Igreja.
A perseguição jamais obstruiu o evangelho nem impediu o
crescimento da Igreja. A Igreja sempre cresceu mais em tempos de perseguição do
que em tempos de bonança. Quem semeia com lágrimas, com alegria recolhe os
feixes. A igreja primitiva avançou com mais força na era dos mártires do que
nos tempos áureos da sua riqueza. Os maiores avivamentos da Igreja aconteceram
em tempos de dor e perseguição. O avivamento coreano aconteceu nos anos mais
dolorosos de perseguição e martírio. A igreja chinesa cresceu explosivamente
nos anos mais dramáticos da perseguição de Mao Tsé-Tung. A prisão de Paulo
abriu espaço para a evangelização em Roma.
3. Paulo rejeita a autopiedade. Paulo não se concentrava no
seu sofrimento com autopiedade. Ele estava preso, algemado, impedido de viajar,
de visitar as igrejas e de abrir novos campos. Porém, ao escrever à igreja de
Filipos, não enfatiza os seus sofrimentos, mas o progresso do evangelho. A
Palavra é mais importante que o obreiro. O vaso é de barro, mas o conteúdo do
vaso é precioso. O que importa não é o bem-estar do obreiro, mas o avanço do
evangelho. Paulo sabia “que todas as coisas contribuem juntamente para o bem
daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto” (Rm 8:28).
III. MOTIVAÇÕES PARA A PREGAÇÃO DO EVANGELHO (Fp 1:14-18)
14 - e muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as
minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor.
15- Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e
porfia, mas outros de boa mente;
16 - uns por amor, sabendo que fui posto para defesa do
evangelho;
17 - mas outros, na verdade, anunciam a Cristo por
contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões.
18 - Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de
toda a maneira, ou com fingimento, ou em verdade, nisto me regozijo e me
regozijarei ainda.
Duas motivações predominavam nas igrejas da Ásia Menor onde
o apostolo Paulo atuava. São elas:
1. A motivação positiva. “e muitos dos irmãos no Senhor,
tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente,
sem temor“.
O fato de Paulo estar em prisão levou a maioria dos crentes
de Roma a um despertamento espiritual e a um engajamento no trabalho da
pregação. Os crentes ficaram mais entusiasmados. Os obreiros se mexeram. A fé,
a confiança e a paciência de Paulo, apesar de sua prisão, ajudaram os cristãos
de Roma a ganharem confiança. Eles viram a fé de Paulo e isto fortaleceu a sua
própria fé. Eles ousaram falar a Palavra com mais confiança, sem temor. Com
mais e mais crentes ganhando ousadia para falar o Evangelho de Jesus Cristo,
mais e mais pessoas ouviram a mensagem e tiveram a oportunidade de aceitá-la.
Isto deu a Paulo uma grande alegria. Ele transmitiu esta boa noticia aos seus
amigos e irmãos em Filipos, para que pudessem saber como Deus estava operando
através de sua situação difícil. Por isso ele se expressou: “E quero, irmãos,
que saibais que as coisas que me aconteceram tem, antes, contribuído para o
progresso do Evangelho” (Fp 1:12).
2. A motivação negativa. ”Verdade é que também alguns pregam
a Cristo por inveja e porfia…”.
Paulo ficou sabendo que alguns dos irmãos e irmãs que tinham
recentemente demonstrado ousadia para falar a respeito de Cristo o estavam
fazendo “por inveja e porfia”. É válido ressaltar que todos aqueles que
pregavam a Cristo eram crentes que possuíam a doutrina correta e agiam,
compartilhando-a com os outros. Conquanto o resultado final pudesse ser o mesmo
(as pessoas ouvindo as Boas Novas), alguns, na verdade, tinham motivos errados
em sua pregação. Agora que o grande missionário Paulo tinha sido silenciado, na
prisão, alguns desses irmãos estavam esperando fazer um nome para si mesmos,
através da lacuna deixada por Paulo. Talvez eles esperassem alcançar uma grande
notoriedade, tentando atrair a atenção das pessoas para longe de Paulo e em
direção a si mesmos. Estas pessoas não tinham nenhum amor por Paulo. Elas
esperavam até mesmo que, ao implantarem igrejas e ganharem convertidos,
estivessem aborrecendo a Paulo, tornando, assim, a prisão do apóstolo algo
ainda mais frustrante. Eu não duvido que esta síndrome maldita, ainda hoje, se
intromete entre aqueles que se dizem pregadores do evangelho.
É bom saber que o foco de Paulo não está nele mesmo, mas em
Cristo. O foco do apóstolo está noconteúdo do evangelho, e não na motivação dos
pregadores. Sua atenção não está no que as pessoas lhe fazem, mas em como o
evangelho avança.
IV. O DILEMA DE PAULO (Fp 1:19-22)
“Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de
partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais
necessário, por amor de vós, ficar na carne” (Fp 1:23,24).
Embora o apóstolo Paulo estivesse cheio da graça de Deus
desejando imediatamente estar com Cristo, ao voltar sua atenção para a
necessidade da comunidade de Filipos ele entra num dilema. O dilema era este:
“desejo de morrer e estar com Cristo”, mas “julgo mais necessário… ficar na
carne” e assim continuar a sua comunhão com os crentes e o serviço a eles.
Embora Paulo tenha vivido em íntima comunhão com Cristo
durante o seu serviço na Terra, desde a sua conversão, estar com Cristo no Céu
seria uma situação mais próxima e mais íntima do que qualquer homem poderia
imaginar. Paulo não tinha dúvida de que a morte seria ainda muito melhor,
porque na morte ele atingiria o seu objetivo final (estar com Cristo) e
finalmente teria a comunhão eterna na presença de Deus (ler 2Co 2:5-8).
Paulo estava preparado e pronto para morrer a qualquer
momento por sua fé, e ele realmente aguardava ansiosamente a morte por causa da
certeza de estar com o Senhor para sempre. Mas ele sabia que os seus desejos
pessoais tinham que estar subordinados à vontade de Deus. Paulo sentia que o
seu ministério na terra ainda não estava completo e que precisava viver para
ajudar as igrejas a crescerem e a se solidificarem. Paulo colocava as
necessidades dos seus irmãos crentes acima de sua própria vontade. Este deve
ser, também, o desejo de todo líder inspirador e responsável com a Obra de
Jesus Cristo.
CONCLUSÃO
Paulo jamais centralizou a sua vida em si mesmo, em seus
desejos e necessidades. Ele sempre colocou os outros na frente do eu. Ele
sempre abriu mão de seus direitos a favor dos outros. A sua gloriosa esperança
em meio à adversidade era estar com Cristo, mas por amor à igreja estava
disposto a ficar. Se para ele o viver era Cristo, o motivo para continuar vivo
era abençoar os irmãos (Fp 1:24,25). Em meio ao sofrimento, e após olhar para o
sofrimento alheio, o apóstolo não se julga no direito de partir com Cristo
sabendo que poderia ser um instrumento de Deus para encorajar irmãos na fé,
edificá-los, e encorajá-los a proclamar o Evangelho ao mundo. A lição
apostólica não poderia ser outra: quando olhamos para o sofrimento alheio e
decidimos aliviá-lo brota em nós a esperança de sermos salvos das nossas
adversidades. Estar com Cristo deve ser o nosso anseio, mas enquanto Ele não
vem estaremos com Cristo juntamente com as pessoas sofredoras. O nosso
sofrimento deve impulsionar-nos a proclamar a outrem aquilo que nos dá
esperança: o Evangelho.
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Elaboração: Luciano de Paula Lourenço - Prof. EBD -
Assembleia de Deus - Ministério Bela Vista.
Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
William Macdonald - Comentário Bíblico popular (Antigo
Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo - Aplicação Pessoal.
O Novo Dicionário da Bíblia - J.D.DOUGLAS.
Comentário Bíblico NVI - EDITORA VIDA.
Revista Ensinador Cristão - nº 55 - CPAD.
Comentário do Novo Testamento - Aplicação Pessoal.
Filipenses - A
alegria triunfante no meio das provas - Rev. Hernandes Dias Lopes.
(1) Paulo, o maior
líder do cristianismo - Hernandes Dias Lopes.