TEMA: O MINISTÉRIO DE EVANGELISTA
Texto Base: Atos 8:26-35; Efesios 4:11
“Mas tu sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério” (2Tm 4:5).
INTRODUÇÃO
Os Apóstolos e Profetas lançaram o fundamento da igreja, e os Evangelistas edificaram sobre esse fundamento, ganhando os perdidos para Cristo. Cada membro da igreja deve ser uma testemunha de Cristo (At 2:41-47; 8;4; 11:19-21), mas há pessoas a quem Jesus dá o Dom especial de ser um Evangelista. No início da Igreja, o trabalho dos Evangelistas era uma obra itinerante de pregação orientada pelos apóstolos, e parece ser justo chamá-los de “a milícia missionária da igreja”. O fato de não termos esse Dom não nos desobriga de evangelizar.
I. JESUS ENVIA OS SETENTA (Lc 10:1-20)
Esse é o único relato nos evangelhos do Senhor enviando os setenta discípulos. É bem semelhante à comissão dos doze em Mateus 10. Todavia, ali os doze discípulos foram enviados às áreas do norte, enquanto os setenta agora estão sendo enviados ao sul, ao caminho que o Senhor seguia a Jerusalém. Enquanto o ministério e o serviço dos setenta foi somente temporário, as instruções do Senhor a esses homens sugerem muitos princípios de vida que se referem aos cristãos de todas as épocas.
1. São poucos os que anunciam. Quando Jesus enviou os trinta e cinco grupos de duas pessoas para alcançar as muitas cidades e aldeias que Ele ainda não tinha alcançado Ele asseverou: “Grande é, em verdade, a seara, mas os obreiros são poucos” (Lc 10:2). Para se ter uma seara é necessário ter obreiros no campo. Assim, muitas pessoas precisam ouvir a mensagem, mas há poucos obreiros dispostos a reuni-los. Embora Jesus tivesse enviado os Doze, e agora mais setenta, Ele lhes disse: “rogai, pois, ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara”. No serviço cristão, não há espaço para o ócio. Nenhum crente deve ficar sentado a olhar os outros trabalhar, porque a seara é grande. Na seara do Senhor a necessidade é sempre maior que a provisão de trabalhadores. Ao orar por trabalhadores, obviamente, devemos estar dispostos a ir. Note: rogai (Lc 10:2), ide (Lc 10:3).
2. Enviados para o meio de lobos. “Ide; eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos”(Lc 10:3). Esses setenta discípulos estavam sendo enviados a um mundo que não era um lugar agradável, era um ambiente hostil (Lc 10:3). A seara envolve um trabalho intenso e inevitáveis perigos. Jesus ordenou que eles fossem – “eu vos mando” -, explicando que eles iriam como “cordeiros ao meio de lobos”. O uso da palavra “cordeiros” se refere à sua vulnerabilidade, que poderia fazer com que eles dependessem mais de Deus. Aparentemente, eles estão sem defesa, como “cordeiros” no “meio de lobos”. Eles não podem esperar ser tratados majestosamente pelo mundo contrário à mensagem do Reino de Deus, mas, antes, ser perseguidos e até mortos. A história da igreja nos mostra que inúmeras pessoas pagaram com a vida por professar a fé em Cristo e pregar o Evangelho. Os verdadeiros evangelistas enfrentarão ainda muitas perseguições, sobretudo em paises dominados por religiões anticristãs e fundamentalistas. Eles são comparados a cordeiros que se dirigem para o meio dos lobos.
A natureza da vocação cristã recebeu o seu modelo do próprio Senhor encarnado que sofreu e foi humilhado até à morte e morte de cruz (Fp 2:6-11). A vida do cristão deriva daquele que exemplificou o padrão do "morrer para viver". Dessa forma, não há absolutamente nada incoerente, nem inconsistente, no "destino dos cristãos como comunidade perseguida, inserida em um mundo hostil" (Fp 2:15). Enquanto muitos pregam que a glória é a insígnia de todo cristão, Paulo afirma que a marca distintiva do crente é a cruz – “E em nada vos espanteis... Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele...”.(Fp 1:28,29). O sofrimento por causa do evangelho não é acidental, mas um alto privilégio, nada menos do que um dom da graça de Deus! A cruz dignifica e enobrece.
3. Os sinais e as maravilhas confirmam a Palavra. Os setenta discípulos completaram a sua missão em várias cidades e aldeias (Lc 10:1) e retornaram com alegria, porque até os demônios se submeteram a eles – “Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam” (Lc 10:17). Além disso, os setenta evangelistas foram autorizados a curar os enfermos que encontrassem nas cidades por onde haveriam de passar (Lc 10:9). Receberam o mesmo poder que os Doze receberam, da parte do Senhor (Mt 10:8). Nos tempos apostólicos, a operação de milagres era parte integrante da missão. Evangelização com milagres, sinais e prodígios era a característica da atividade ministerial. Receberam "poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e para curarem toda enfermidade e todo o mal" (Mt 10:1). Da mesma forma, os setenta evangelistas também estavam investidos da mesma autoridade espiritual.
Todavia, quando os discípulos retornaram trazendo o relatório positivo da missão e cheios de alegria por que os demônios lhes sujeitaram, Cristo os advertiu para não fazerem do poder sobre os demônios, ou do sucesso da missão, uma fonte fundamental da sua alegria. Deviam alegrar-se, sim, por estarem redimidos do pecado e destinados ao Céu (ver Mt 7:22,23). Isso é uma grande lição para todos nós hoje que exercemos algum ministério no reino de Deus!
II. A GRANDE COMISSÃO (Mt 28:19,20; Mc 16:15-20).
“Comissão” significa “ato de cometer, encarregar, incumbir”; é, em primeiro lugar, uma ordem, um imperativo - “Ide... Ensinai (fazei discípulos)... Batizando”(Mt 28:19). Estas palavras constituem a Grande Comissão de Cristo a todos os seus seguidores, em todas as gerações. Elas declaram o alvo, a responsabilidade e a outorga da tarefa missionária da Igreja.
Na igreja primitiva, a evangelização atingiu o ápice quando experimentava um efusivo derramamento do Espírito Santo (At 2:1-4). Essa unção extraordinária modificou a estrutura espiritual de um grupo de homens assustados em verdadeiras brasas ardentes, e os levou a testemunharem do amor de Deus com o sacrifício de suas próprias vidas.
1. O alcance da Grande Comissão. Jesus, após ter passado quarenta dias dando prova da Sua ressurreição aos discípulos e falado a respeito do reino de Deus (At 1:3), explicitamente determinou qual seria a tarefa principal da Igreja: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16:15). Aqui, o verbo está no modo imperativo, ou seja, trata-se de uma ordem, não de uma recomendação ou de um conselho da parte do Senhor. Nota-se que Jesus ordenou que o evangelho fosse pregado por todo o mundo a toda a criatura, uma ordem que estabeleceu um verdadeiro dever a todo cristão, a ponto de o apóstolo Paulo ter exclamado: “Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o evangelho!”(2Co 9:16). Esta ordem de Jesus, registrada por Marcos, foi proferida quando Jesus apareceu aos onze, oito dias depois da ressurreição (Mc 16:15 c/c João 20:26-29).
No registro feito por Mateus, a ordem de Cristo é dada em um monte na Galiléia, para onde o Senhor havia determinado que os onze discípulos fossem (Mt 28:16), tendo, então, a ordem de Cristo sido até mais ampla que a registrada por Marcos, envolvendo além da pregação do Evangelho, o batismo nas águas e o ensino da Palavra (Mt 28:19,20). O Evangelho segundo Marcos termina com a afirmação de que, em cumprimento à ordem, os discípulos foram e pregaram por todas as partes (Mc 16:20).
A ordem do Senhor de ir por todo o mundo lembra-nos de que a evangelização é feita sem qualquer discriminação, sem qualquer parcialidade ou preferência deste ou daquele lugar, desta ou daquela nacionalidade. Ir (proclamar o Evangelho em palavras e ações a toda criatura), Ensinar(tanto aos novos convertidos como aos maturados na fé, tornando-os fiéis seguidores de Cristo); eBatizar (integrar os novos convertidos na igreja local, a fim de que cresçam na graça e no conhecimento por intermédio da ação do Espírito Santo em sua vida, e desfrute sempre da comunhão dos santos) – é, sem sombra de dúvidas, a suprema tarefa da igreja. A igreja pode fazer tudo aqui na terra, mas se não fizer missões e evangelismo, não fez nada. Missões é urgente e imprescindível!
2. O mundo está dividido em dois grupos. Marcos 16:16 informa que no mundo há dois grupos de pessoas diante da mensagem de Jesus: os que creem e os que não creem – “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”.
A ordem do Senhor é que devemos ir por todo o mundo: ir ao encontro do mundo; ir ao encontro dos pecadores, levar-lhes a mensagem da salvação em Cristo Jesus. O homem não tem condições de salvar-se a si próprio e, mais, o deus deste século lhe cegou o entendimento para que não tenha condições de ver a luz do evangelho da glória de Cristo (2Co 4:4).
A ordem do Senhor é para que se pregue a toda criatura, mesmo aquela que, pela sua conduta, pela sua forma de proceder, seja a pior pessoa que exista sobre a face da Terra. Não cabe à Igreja dizer a quem deve, ou não, ser pregada a Palavra. O Senhor foi enfático em dizer que toda criatura deve ouvir a mensagem do Evangelho, seja esta pessoa quem for. Nos dias do profeta Jonas, o Senhor mandou que fosse feita a pregação a todos os ninivitas, sem exceção alguma,ainda que eles fossem os homens mais cruéis que existiam no mundo naquele tempo. Mesmo sendo o que eram, foram alcançados pela misericórdia divina. Observe o exemplo de Jesus - Ele ia ao encontro dos publicanos e das meretrizes, considerados a escória da sociedade de seu tempo, e nós, o que estamos a fazer?
3. A Grande Comissão hoje. O imperativo de Jesus continua tão forte como no dia em que foi proferido pela primeira vez, logo após a sua ressurreição. O santo evangelho continua sendo apresentada ao ser humano, a mensagem de que “o tempo está cumprido e que o reino de Deus chegou”, ou seja, que Jesus salva o homem e o liberta do pecado, pondo-o, novamente, em comunhão com Deus, restaurando-lhe, assim, a dignidade originalmente concedida na criação, bem como lhe assegurando a vida eterna. Ao aceitar a mensagem do Evangelho o ser humano passa a se comportar de maneira condizente com a vontade de Deus; passa refletir a respeito dos princípios e valores, que se encontram na Palavra de Deus, em todos os níveis de nossas relações: na família, na igreja, na escola, no trabalho e nas amizades. Isto equivale dizer que o Evangelho de Cristo não visa apenas salvar o homem do pecado e do inferno, mas também levá-lo a agir como instrumento transformador da sociedade na qual acha-se inserido.
Para a igreja foi dada a ordem de anunciar o evangelho, e terminará somente quando ela for arrebatada. Milhões ainda não foram alcançados pela mensagem do Evangelho e milhões tem se desviado da fé cristã. A Europa, celeiro de missionários até há pouco tempo, quase por inteiro, já é considerada “pós-cristã”. Como bem diz o pr. Elinaldo Renovato, “se a igreja não experimentar um real e poderoso avivamento espiritual, em poucas décadas a Europa se tornará muçulmana ou o cristianismo não mais influenciará”.
A igreja fundada por Jesus Cristo é um organismo vivo, dinâmico e atuante neste mundo de miséria e pecado, mas para que isto ocorra é necessário canalizar mais recursos financeiros, colocando missões em primeiro lugar na administração e atividades da igreja, sem isto não estamos contribuindo de forma efetiva para divulgação do Reino de Deus aqui na terra. Hoje, há inúmeras maneiras de exercermos o ministério evangelístico: na evangelização de massa, na evangelização pessoal, na evangelização por filmes, na evangelização pelo rádio, pela televisão, pela internet, na evangelização pela música, etc.
III. O DOM MINISTERIAL DE EVANGELISTA
“... outros para evangelistas...”(Ef 4:11).
1. O conceito de Evangelista. O termo “evangelista” é a transliteração do termo grego “euaggelistas”, utilizado para nomear os cristãos que se dedicavam à proclamação do evangelho aos incrédulos, sendo utilizado na igreja para conceituar um de seus ministérios de liderança (Ef 4:11). O vocábulo origina-se da raiz grega “euaggelizó”, que significa “anuncio as boas novas de libertação” ou “proclamo o evangelho”. O significado de “boa nova” origina-se do texto de Isaias 52:7 e 61:1, respectivamente: “Quão suaves são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!”. “O Espírito do Senhor JEOVÁ está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos”.
"A palavra [evangelista] é encontrada três vezes no Novo Testamento. Os evangelistas estão relacionados junto com os apóstolos, profetas, pastores e doutores, como aqueles que são chamados para compartilhar a construção da igreja (Ef 4.11ss). Filipe foi chamado de 'o evangelista' (At 21.8). Embora fosse um dos sete escolhidos para aliviar os apóstolos da tarefa de distribuir alimentos (At 6.5), ele foi especialmente notado por sua atividade evangelizadora. De Jerusalém, ele foi até Samaria e pregou com grande sucesso (At 8.4ss). Dali, foi enviado para evangelizar um oficial da corte etíope, que estava viajando para casa depois de visitar Jerusalém (At 8.26ss). Então pregou o Evangelho desde Azoto até Cesaréia, onde tinha sua casa (At 8.40; 21.8)" (PFEIFFER, Charles F.; REA, John; VOS, Howard F. (Eds.). Dicionário Bíblico Wycliffe. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp.725,26).
2. O papel do evangelista. Como Dom, o Evangelista refere-se àquele que é chamado para pregar o Evangelho. Foi concedido por Deus para que o arauto de Deus, através da mensagem centralizada na cruz de Cristo, ganhasse pessoas para o reino divino. Uma das maiores características de um evangelista é a sua paixão por pregar às pessoas; não importa o número, se uma pessoa, se dezenas, centenas ou milhares; o que importa é pregar Jesus, o crucificado. Ele é o líder eclesiástico funcionalmente envolvido com a proclamação do Evangelho como a Palavra divina encarnada em Jesus Cristo (At 8:5-8). Diferentemente dos “apóstolos” que, em geral, viajando para uma cidade, permaneciam evangelizando ali a fim de organizarem uma nova igreja local (At 20:1-3, 6,7,11,17; 21:8,9), os “evangelistas” possivelmente auxiliavam na proclamação do Evangelho aos incrédulos junto às igrejas já construídas, qual Filipe, o evangelista que residia na cidade de Cesaréia (At 21:8). Ou seja, os evangelistas proclamavam a Palavra na região onde estavam congregados. Paulo, sabendo da importância deste dom, disse a Timóteo: “Mas tu sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério”(2Tm 4:5).
3. A finalidade do ministério do evangelista. Ganhar almas para Cristo e de instruí-las nas doutrinas fundamentais da vida espiritual (Hb 6:1,2), a fim de que, superada a fase inicial, possam prosseguir por conta própria na caminhada para o céu. A principal característica do evangelista é a de que é um instrumento de Deus para trazer as pessoas ao encontro pessoal com Cristo e de criar as condições mínimas para a estruturação da vida espiritual. É o anunciador das boas-novas da salvação. É aquele que está na linha de frente do “ide” de Jesus. Ele tem habilidade especial para diagnosticar a condição do pecador, sondar sua consciência, encorajar a decisão por Cristo e ajudar o convertido a encontrar segurança na Palavra de Deus. Os evangelistas devem sair e pregar ao mundo para depois conduzir os convertidos a uma igreja local onde serão alimentados e encorajados espiritualmente. Além de Timóteo, Filipe foi outro evangelista muito útil na obra de evangelização na igreja primitiva – “No dia seguinte, partindo dali Paulo e nós que com ele estávamos, chegamos a Cesaréia; e, entrando em casa de Filipe, o evangelista, que era um dos sete, ficamos com ele” (At 21:8).
CONCLUSÃO
O Dom de Evangelista é concedido pelo Espírito Santo a algumas pessoas para o fortalecimento e a edificação das igrejas locais (Ef 4:11), todavia, nenhum crente está desobrigado de cumprir o “ide” de Jesus. Em sua despedida, Jesus mandou que seus seguidores pregassem o evangelho por todo o mundo, a toda criatura, e assegurou que seriam manifestados sinais que haveriam de seguir “aos que crerem”, indicando que todos os crentes, que se dispuserem a testemunhar de Cristo, receberão poder sobrenatural para cumprir a tarefa de evangelizar. As igrejas locais só existem porque é necessário se pregar o Evangelho a toda a criatura.
“A Bíblia não manda que os pecadores procurem a igreja, mas ordena que a igreja saia em busca dos pecadores” (Billy Graham).
------
Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Assembleia de Deus – M. Bela Vista. Disponível no Blog:http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
Revista Ensinador Cristão – nº 58 – CPAD.
William Macdonald - Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento. Mundo Cristão.
Pr. Elinaldo Renovato - Dons Espirituais & Ministeriais(servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário). CPAD.
Efésisos (Igreja, noiva gloriosa) – Rev. Hernandes Dias Lopes. Hagnos.
Wayne Grudem - Teologia Sistemática. Vida Nova.
Carlos Alberto R. de Araújo – A Igreja dos Apóstolos. CPAD